quarta-feira, 25 de abril de 2018

Viver é melhor que sonhar...

Alegria, sorrisos nos rostos, malas sob os corpos animados, era dezembro do ano de 2017, mês de férias em Porto Seguro Bahia. Dia agitado, o avião pousava e nós, a pequena família, adentrava em tons de expectativas a aeronave. Uma hora depois, o sufoco, que dor estarrecedora na face, os dentes e ouvidos pediam socorro da forte pressão sentida. Preocupação e alivio assim que pousamos. A dor se fora.
Mar azul, a paisagem não cabia aos olhos, transcendia...
Dia 24, domingo de praia, sol claro e forte anunciava o dia de diversão, passamos a manhã e toda tarde com os pés na areia. A noite, a ceia de natal inesquecível... Tudo tão maravilhoso...

Segunda, 25, natal.

Ao abrir os olhos na clara manhã de natal as dores dominavam, olhar para os lados era uma sentença, a luz, o calor, a agitação, tudo refletia no olho direito. As férias de 8 dias foram acompanhadas de fortes dores, porém, com muita determinação de viver, ao lado dos meus amados pais, momentos inesquecíveis. Venci dia a dia a dor, com alguns remédios e novas experiências.

Após o ano novo, a visão ainda continuava sob uma névoa que trazia grandes temores, não havia ainda uma explicação para o que eu sentia, já se passaram duas semanas..
Fui ao oftalmo na segunda semana de janeiro, exames foram solicitados, quando no "mapeamento de retina" observaram o meu nervo óptico inflamado. Segundo o medico, isso indicava a necessidade de outro profissional, o neurologista.

Apesar de muita tensão, consegui consultar com um neurologista no dia 12 de janeiro, com tentativas de me acalmar, o medico solicitou uma ressonância magnética e foi ai que tudo de fato começou, o que deveria durar 30 minutos, acabou se prolongando por mais de uma hora.
Aconteceu que após observar várias inflamações no cérebro começou-se uma investigação..

No sábado, dia 13, estávamos eu, meu namorado e os meus pais num belíssimo almoço, ar fresco, natureza exuberante e o barulho de uma pequena cachoeira ao fundo, tudo perfeito. Eis que o telefone toca insinuando o mal presságio.  Teria que ser internada.
Saímos as pressas, todos muito abalados.

No hospital, o médico. O Dr fez alguns pequenos testes físicos comigo, após construir o diagnostico, pautado pelas minhas palavras e o resultado do exame de imagem, fui sentenciada. Sou portadora de EM, esclerose múltipla aos 23 anos de idade.

No susto começou-se ali o tratamento, altas doses de corticoide e muito amor. Depois de 7 dias no hospital, revoltas, procura por explicações e medo tomaram conta do meu ser. Por um tempo, talvez entre o final do mês de janeiro e o mês de fevereiro eu tenha entrado em estado de hibernação e isolamento. Somente em março, mas propriamente no dia 12 de março, que acordei de um sonho. E com os medicamentos em minhas pequenas mãos eu disse baixinho: REALMENTE ISSO ESTÁ ACONTECENDO COMIGO, EU TENHO ESCLEROSE MÚLTIPLA.

A adaptação foi um pesadelo, não serei medíocre em dizer que a consciência da doença torna mais fácil o cuidado e a adequação da mesma. O medicamento indicado foi o Glatirâmer, 28 ampolas injetadas subcutânea.  Nas primeiras aplicações, senti um forte ardor e uma intensa dor no local. Na região do braço, para mim,  foi impossível a aplicação e totalmente desnecessária, visto que cada organismo e corpo reage de uma maneira, o correto, sem duvidas, foi estipular mais lugares confortáveis para a aplicação, já que farei todos os dias.

Os efeitos, felizmente, foram apenas no local da aplicação. Nódulos, região vermelha, quente e coceiras. Após ajustar corretamente a agulha, muito destes problemas melhoraram, entretanto a dor após a aplicação parece estar dentro da "normalidade" do medicamento. A dor dura de 30 min a 1h e 30m.

Importante salientar sobre a empresa que auxilia na administração do medicamento, chegou em minhas mãos uma celestial caneta que facilita e torna a aplicação mais tranquila. Contar com esses produtos foi primordial para o meu inicio de tratamento.

Hoje já estou na 52º aplicação, inteirando dois meses do medicamento e 4 meses do diagnostico da doença. a tristeza com toda certeza faz parte de mim, mas ela se mistura a uma explosão de sensações,  a gratidão por ter ao meu lado pessoas que tanto me ajudaram e ajudam, apoiam e me amam. Além de me sentir determinada a viver, a me cuidar.  Os primeiros passos são demorados, confundem-se a exaustão e a ausência de esforço.

Para portadores dessa patologia é extremamente necessário iniciar exercícios físicos, no entanto, é possível contar em uma mão de cinco dedos, ás vezes que inicie as atividades. Consigo compreender sua importância e todos os dias me interrogo e cobro sua execução, mas também percebo que esse processo dará-se-a lentamente.

Após tantas injeções não há qualquer duvida sobre a doença, pelo contrario, surge nesse momento, uma inquietação de procurar anormalidades pelo corpo, o medo do surto é inevitável.
Mas, continuarei lutando, procurando  me reerguer novamente.

O sedentarismo, a má alimentação, e o pessimismo não pode mais morar em mim.